"[...] Que eu tenha honestidade com todos, mas, acima de tudo, que eu seja honesta comigo mesma. Que eu não busque a perfeição nem crie personagens de mim mesma, pois o projeto de agradar a todos me rouba de mim, mas que eu faça as pazes com o silêncio que me habita e assusta. Sou tecida de opostos, ambivalências, contrastes e conflitos; e mesmo o que é desagradável em mim deve ser respeitado. Que eu seja camarada com minha solidão, pois é minha parceira mais fiel, e que minha coragem não solte minha mão quando as perdas esmagarem meus passos.
Que eu descubra minha verdade mais honesta, aquela que me escapa e se esconde até mesmo de mim, aquela que me diz coisas quando cessa o barulho do mundo, aquela que está no fundo dos olhos castanhos que diariamente me encaram no espelho. Que eu descubra e não traia essa verdade pela culpa ou pelo medo de ser feliz.
Que eu desista de ser fiel à ferida, e saiba reconhecer quando a dor estiver querendo me enfeitiçar. Que as inquietações deem lugar ao descanso da alma e que, depois de arder, eu encontre repouso e abrigo. Que eu consiga abandonar o que machuca, e salve a mim mesma reverenciando o que satisfaz meu equilíbrio.
Clarice Lispector dizia: 'Somos a única presença que não nos deixará até a morte', e assim é. Que eu não apenas tolere minha companhia, mas seja minha melhor parceria. Que eu saiba enxugar meu pranto, e não me coloque em situações que destruam meu encanto. Que eu aprenda a me poupar, a me defender, a me escutar e compreender. Que eu aprenda a ficar só, e tolere o peso da minha solidão e do meu silêncio. E, a exemplo de Hesse, que eu pare de mentir a mim mesma, e comece a ouvir 'os ensinamentos que meu sangue murmura em mim'…
(Fabíola Simões)