Tudo que não conseguimos falar vira eco e não há paz enquanto silêncios retumbantes latejam dentro de nós.
A paz é impronunciável, inaudível, intraduzível. Sente-se paz. Só isso. Quando palavras são necessárias, a paz vira tratado, acordo, confissão.
A palavra não dita só é ouro se não for palavra, mas silêncio e quietude. O resto, todas as palavras, precisam ser pronunciadas para que dentro de nós não cresçam ervas daninhas, tumores, temores, fossos. A palavra abafada sufoca. A palavra amordaçada arranha e fere. A dor silenciada é devastadora como um terremoto a rasgar fendas na alma e fazer desabar certezas.
De todos os males que podemos nos causar, um dos maiores é engolir palavras. Por isso, expresse-se! Fale, explicite, faça-se ouvir. Traduza-se. Não tenha medo das palavras que lhe pertencem. Clame por justiça, reclame carinho, conte seus sonhos. Elabore memórias, conte histórias, verbalize ressentimentos. Pronuncie-se contra, a favor, muito pelo contrário. Vote. Não engula sapos, desaforos, não aborte palavras que vêm das entranhas. Solte-as no mundo, na cara da vida, devolva-as. Manifeste desejos, desagrados, desagrave-se. Cante, chore alto, lamente-se, fale com Deus. Não tenha pudores nem meias palavras: sinta inteiro, lave a alma, letra por letra, fale-se.
Fale de amor, afeto, carinho. Amor explicitado é linguagem universal. Transforme palavras em gestos, abraços, presentes, romance. Fale de idéias e ideais. Transforme palavras em ações, soluções, revoluções. Fale de valores e sabedoria. Transforme palavras em exemplo e atitude.
Que você possa falar Eu te amo, Eu entendo, Eu perdoo, Eu não aceito, Eu não quero, Dane-se, Eu espero, Eu consegui, Sai daqui, Eu errei, Eu vou recomeçar, Me perdoe, Fica comigo e tantas outras palavras, com propriedade e clareza, para que elas sejam libertadoras. Para que elas operem milagres, encontros, desabafos, trégua mas, sobretudo, silêncio, aquele que vale ouro, aquele que vem depois que as palavras descansam bem-ditas, saciadas, em paz.