(Cristian Schloc art) |
Com o tempo as pessoas vão morrendo. A morte do corpo chega para todos em algum momento da vida. Todavia, alguns, em vida, agregam outras mortes que exalam odores duvidosos e mata a existência num piscar de olhos.
Morre-se por causa do egoísmo. Por exagero de pudor. Pela bisbilhotice aguda que lança mentiras. Pelas preocupações desnecessárias que enrugam a alma. Pelas críticas ácidas que não constroem nada.
Morre-se pela avareza. Pelo tédio. Pela displicência. Em meio a névoas das paisagens, morre-se pela cegueira de não enxergá-las. Morre-se prematuramente pela falta de encarar a vida com simplicidade. Morre-se por falsas deduções. Por exagero de ocupações. Pela falta de perdão. Por abortar os sonhos com a extrema realidade. Pela falta de coragem para o enfrentamento das situações adversas.
Morremos diariamente pelo excesso de formalidade. Por vivermos espremidos em ideias e códigos estúpidos. Pelo preconceito que afasta todos os outros e subtrai a tolerância e o respeito. Pelos incômodos adereços supérfluos que nos faz pensar em superioridade. Pela covardia silenciosa que nos faz abandonar o outro em seu apocalipse solitário.
Morre-se de autoflagelamento pelos erros involuntários. Afogado nas lembranças sem permitir seguir em frente. Pela desarmonia interior. Pelo imenso falatório e a falta do exercício de prática.
Morre-se por subtrair afeto, somar intrigas, multiplicar dores.
Embora vivo, morre o tolo, o arrogante, o impiedoso, o fútil, o preguiçoso, o irado. E, nessa equação, morre quem vive de tarja preta para a vida, sem necessariamente precisar morrer o corpo.
(Ita Portugal)