Bloqueador de Selecao

domingo, 3 de fevereiro de 2019

A REDE QUE EMBALA OS PESADELOS.

                                                               (Cristophe Vacher art)


Quanto mais o mundo se informatiza e ganha novas tecnologias, quanto mais buscamos alternativas para nos comunicar, menos nos entendemos, muito menos provemos conteúdo e quase nada nos conhecemos de fato.

O mundo segue interligado em rede, conectado a cabos e conexões, porém se desconecta do que é realmente essencial. Fantasia, fantasia, até se perder nas ilusões. Pessoas buscam pessoas freneticamente. Gente procura gente para amar. Tudo isso em fração de segundos, na velocidade das sombras. Todavia, o que os homens esquecem é de acender uma simples luz dentro de si e deixar de depender do outro para serem felizes e estarem em paz.

Eu, você e toda a humanidade queremos alguém para partilhar nossas alegrias e atenuar nossas dores, não? No entanto, todos nós afundamos num mar de lama quando buscamos o outro por necessidade. A tábua de salvação de nada serve porque apodrece e afunda também com o tempo e a maresia. Quem nos salvará então das ondas emocionais que são capazes de nos levar às ilhas tão desertas e repletas de perigos?

Quando conseguimos garimpar alguém com necessidade, com a nossa sede afetiva, nossa fome sensual, todo o nosso sonho de uma vida a dois vira pesadelo com o passar das horas e com os erros tão naturais ao ser humano. O “dormir coladinho” se desgruda, e o belo e o encantado transformam-se num monstro real de tentáculos imperdoáveis. Daí voltamos à solidão, às carências, às baixas auto-estimas, ao medo de ficarmos sós. 

Será que nascemos xipófagos um do outro? Por acaso, as crianças precisam namorar para brincar de serem felizes? E os idosos não possuem mais vida quando os amados se vão? O solitário bicho não é capaz de viver alvissareiro na floresta? Todo ser adulto precisa se casar, ter filhos e envelhecer em frente à TV para ser taxado de “feliz”?

Será que este vazio que sentimos se deve única e exclusivamente a ser preenchido pela necessidade urgente do outro? 

Sei que dói ficarmos a sós. Enfrentamos o nosso maior inimigo: nós mesmos. Porém, esta busca desenfreada pelo outro nos leva a ficarmos presos a uma rede que embala os nossos próprios pesadelos. É puro engodo achar que a vida só tem graça quando estamos acompanhados por alguém. A solidão é um estado de espírito que pode nascer em meio às multidões. Casados, solteiros, viúvos, adolescentes, adultos e velhos se sentem sozinhos e infelizes. Qual o motivo? É simples: porque não buscam dentro se si a sua melhor companhia. 

As pessoas somente serão mais íntegras e realizadas quando encararem a presença do outro como dádiva, como presente, como espelho, como oportunidade de crescimento. Estados de sentimentos são efêmeros, todavia uma porção de felicidade só poderá ser alcançada quando nós nos sentirmos inteiros a sós.



(Por Maurício Santini).




Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...