As flores toleram as abelhas, mesno se estas lhes tiram o néctar,
mesmo, se por vezes, por acidente, uma pétala se machuca.
A natureza tolera os ventos que arrastam folhas e quebram os galhos,
tolera as torrentes e correntes que não perguntam o que carregam na
sua passagem.
A própria lua tolera as mudanças e acolhe
serenamente cada fase com dignidade.
Só nós, humanos e racionais, somos assim intolerantes com a vida, com o próximo, com o que nos acontece, com o que deixa de nos acontecer,
com as diferenças e os diferentes que mal suportamos
Damos de nós e queremos ficar inteiros;
recebemos e queremos continuar os mesmos,
abastados do nosso eu, sem as máculas dos pecados
que nos deixariam iguais a todo mundo.
Queremos amar o que nos é próximo, pois que nos disseram "ama a teu próximo" sendo que esse outro deve ser uma correspondência daquilo
que somos. O que é diferente nos decepciona e nos faz sofrer.
Por isso cobramos tanto dos outros e permitimos
que essa negra nuvem encha nossa alma de tristeza ao depararmos com
ações e reações diferentes das que esperamos.
Mas não é amar tolerar que o outro seja outro e
aceitar com resignação e alegria até que, mesmo nos possíveis deslizes,
esse encha nossa vida de novos ares e novas flores?
A tolerância é uma incontestável prova de amor
e de humildade; é o eu que se inclina para se reerguer mais rico,
mais pleno, mais aberto, mais solto e mais livre.
Mais livre!!! E por isso mesmo mais feliz!
Ser flexível na vida não é se curvar.
É simplesmente abrir-se como abrem-se nossas janelas para que o sol
entre e ilumine nosso recinto.
É um ceder que nos enobrece, pois nos permite degustar da vida nos
seus mínimos detalhes.
(Letícia Thompson).