As relações afetivas estão passando por profundas transformações e
revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos
modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer
de estar junto e não mais uma relação de dependência, em que um
responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para a nossa felicidade, que
nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer.
O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e
precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos
completos.
A palavra de ordem deste século é parceria.
Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo.
Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito
diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as
pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a
conviver melhor consigo mesmas.
Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são
inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente
uma fração. É um companheiro de viagem.
Estamos entrando na era da individualidade, o que nada tem a ver
com egoísmo.
O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que
vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.
Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso.
As boas relações afetivas são muito parecidas com o ficar sozinho,
ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do
século passado.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito
só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do
outro.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável.
Nesse tipo de ligação há o aconchego, o prazer da companhia e o
respeito pelo ser amado.
(Flávio Gikovate).