(Alexander Gunin art)
Viver não é difícil, mas a gente complica. Queremos entender tudo, saber tudo, ter a ciência e as ferramentas e construir um mundo que, na realidade, está muito além de nós. Cada dia que passa nos surpreendemos com os acontecimentos, como se não fossem previsíveis e tentamos construir à nossa volta a redoma que vai nos proteger e dar abrigo aos nossos.
O que acontece aos outros pode nos acontecer, como o ar que invade cada narina dos animais e dos homens e os torna iguais, mortais e dependentes de uma força Maior. Essa realidade às vezes nos choca, como se não fôssemos, cada um, o outro para um outro. E ter consciência da vida, da sua fragilidade e beleza não deveria nos intimidar.
Cada dia basta a si mesmo e se as dores de ontem continuam doendo no peito, as possíveis alegrias do amanhã devem nos fazer olhar para o momento presente e construir com ele o melhor que podemos com as nossas mãos.
Precisamos viver agora como se o instante seguinte não fosse existir e fazer de cada momento o mais precioso de todos. Precisamos dar de nós com a consciência que o que fazemos ou deixamos de fazer fica enraizado nos que prosseguem em nosso caminho.
O amor, o ódio, a esperança e a desilusão são sementes que plantamos. O sorriso é o sol que oferecemos e o abraço o calor que abriga a vida. Cada instante temos escolhas, cientes ou inconscientes e elas constroem o que somos ou deixamos de ser.
Quem observa o vento, nunca semeará. Mas aquele que estuda seu coração e olha para o Alto, esse possuirá campos imensos e nada lhe será recusado. Deus ama ao que dá com alegria e oferece com alegria ao que ama. Se tiver que deixar uma herança aqui na terra, que seja esta: o bem que você fez sem contar e sem escolher.
Somos todos sim, construídos do mesmo barro, mas nosso coração se modela cada dia, com cada lição, cada porta que abrimos, cada mão que oferecemos.
(Letícia Thompson).