(Victoria Stoyanova art)
Há coisas que estão além.
Pois eu desejaria saber ensinar a solidariedade a quem nada sabe sobre ela.
O mundo seria melhor.
Mas como ensiná-la?
Seria possível ensinar a beleza de uma sonata de Mozart a um surdo?
Como, se ele não ouve?
E poderei ensinar a beleza das telas de Monet a um cego?
De que pedagogia irei me valer para comunicar cores e formas a quem não vê?
Há coisas que não podem ser ensinadas.
Há coisas que estão além das palavras.
Os cientistas, os filósofos e os professores são aqueles que se dedicam a ensinar as coisas que podem ser ensinadas.
Coisas que são ensinadas são aquelas que podem ser ditas.
Sobre a solidariedade muitas coisas podem ser ditas.
Por exemplo: eu acho possível desenvolver uma psicologia da solidariedade.
Acho também possível desenvolver uma sociologia da solidariedade.
E, filosoficamente, uma ética da solidariedade…
Mas os saberes científicos e filosóficos da solidariedade não ensinam a solidariedade, da mesma forma como a crítica da música e da pintura não ensina às pessoas a beleza da música e da pintura.
A solidariedade, como a beleza, é inefável – está além das palavras.
(Rubem Alves)