Saudade do quê? Saudade de andar livre pelos caminhos. Saudade do calor das pessoas. Já me deu saudade do abraço, de respirar o ar que é nosso, de respirar junto, sabe? Eu, você, eles e nós. Já me deu uma saudade, saudade essa que eu não supunha antes: saudade do trivial, saudade de dizer: "Vamos tomar um café qualquer dia desses, estou com saudades." Estou com saudades do café que não tomamos - porque certamente estávamos ocupados demais vivendo nosso 'sript', nossos passos tão bem coreografados, nossos segundos tão bem cronometrados.
Saudade do longe. Tempo para o perto, do perto que eu estava distante. "Que bom, agora posso me aproximar... melhorar as raízes do meu mato."
E por essa saudade excessiva que eu sinto durante a quarentena passaram-me até receita para curá-la.
A receita é muito simples e mais ou menos assim:
Muito mais que caipirinha ou limonada, combine cores e amores. Se a vida de ter limões (ou saudades), dê uma gargalhada e diga que o cinismo desse tal coronavirus mexeu com a pessoa errada. Se a vida te der limões, aproveite a vitamina C . Na falta de mar, mentalize um mergulho e sinta o gosto do sal. Sinta o arder nos olhos, assim como o ardido do limão azedo. Acho que todo mundo aqui se preocupa com essa história de saúde, estão estamos em casa e com a energia a mil: escrevendo, lendo, fazendo e acontecendo. Vivendo o verdadeiro significado das coisas simples. Estamos na cozinha, no banheiro e na sala de ser (e estar). Estamos fazendo nossa arte com a parte que nos cabe da saudade.
( Caroline Beatriz Machado Gaertner)