domingo, 4 de abril de 2021

EMPATIA VIRAL (UMA REFLEXÃO SOBRE OS EFEITOS DA PANDEMIA DO CORONAVIRUS -COVIDE 19)

 


E assim, um dia, o mundo se encheu da desastrosa promessa de um apocalipse viral e, de repente, as fronteiras que foram tão defendidas com guerras se quebraram com gotículas de saliva, houve equidade no contágio que foi distribuído igualmente aos ricos e pobres, as potências que se sentiam infalíveis viram como se pode cair ante um beijo, ante um abraço.

E nos demos conta do que era importante, e então uma enfermeira se tornou mais indispensável que um jogador de futebol, e um hospital se tornou mais urgente que um míssil. As luzes foram apagadas nos estádios, os filmes pararam de ser filmados, as missas e os encontros em massa. E então, no mundo, houve tempo para refletir sozinho, e esperar em casa que todos chegassem para se reunirem em frente as fogueiras, mesas, cadeiras de balanço, redes e contar histórias quase esquecidas.

Três gotículas de ranho no ar nos levaram a cuidar dos nossos anciões, a valorizar a ciência acima da economia, nos disseram que não apenas os indigentes trazem pragas, que nossa pirâmide de valores estava invertida, que a vida sempre veio primeiro e que as outras coisas eram acessórios.

Não há lugar seguro, na mente de todos nós cabem todos, e começamos a desejar o bem ao próximo, precisamos que se mantenha seguro, que não fique doente, que viva muito, que seja feliz, e junto com uma paranoia fervida em desinfetante, nos damos conta que se eu tenho água e ele de mais distante não, minha vida está em risco.

Voltamos a ser uma aldeia, a solidariedade se tinge de medo e com o risco de nos perdermos isoladamente há apenas uma alternativa: sermos melhores juntos.


(Texto de Edna Rueda Abrahams – postado em @wrongedna, intitulado “Empatia Viral”)