domingo, 29 de julho de 2018

MESMO DOENDO, CHEGA UMA HORA EM QUE É PRECISO PASSAR UM TRINCO NA PORTA.




Nos ensinaram a perdoar.
Nos ensinaram a tolerar.
Nos ensinaram a relevar.
Nos ensinaram a ceder.
Tudo isso é importante sim, mas faltou nos ensinarem a deixar ir.
A abandonar o que nos faz mal.
A partir de lugares que deixaram de existir.
A nos amar em primeiro lugar.
A entender que, assim como nos doamos, merecemos alguém que se doe também.
Faltou nos ensinarem a escolher.
Escolher estar com alguém que nos faça bem.
Escolher estar com alguém pelos motivos certos, e não por excesso de carência.
Talvez seja hora de aprender.
Aprender a reavaliar a rota.
Aprender a decidir o que desejamos que permaneça em nossa vida.
Aprender a fazer escolhas que nos deixem em paz.
Aprender a recusar migalhas, medo da solidão e palpiteiros de plantão.
Aprender, acima de tudo, a distinguir o que merece ou não ser mantido em nossa vida.
De vez em quando a gente acha que precisa de alguém _ alguém que pela presença ou ausência nos machuca_ mas se for olhar novamente, olhar de fora, olhar pra valer, vai perceber que não precisa.
Você não precisa desejar alguém que não te deseja.
Você não precisa aceitar um amor ruim só porque algum canto dentro de você decidiu que você era merecedora de pouca coisa, de afetos rasos e relações unilaterais.
Você não precisa ficar refém de um lance que te deixa inseguro, que te domina e o obriga a perder os melhores momentos da vida olhando fixamente para a tela do celular, esperando por um “plim” redentor que trará alegria momentânea por apenas alguns segundos, mas depois roubará seu brilho, deixando-o numa solidão ainda maior.
Você não precisa de promessas vazias, de um “te ligo” ou “a gente se vê” sem consistência, vontade ou verdade. 
Você não precisa construir enredos e sonhos em cima de terrenos frágeis e pessoas vagas.
Você não precisa acreditar que não há nada melhor lá fora, que não é merecedor de um amor inteiro, sólido e recíproco. 
Você não precisa se esforçar para ter alguém por perto. As pessoas ficam por querer ficar, não pela sua insistência. Tão mais simples fechar a porta em silêncio, se afastar sem muita explicação, fazer da indiferença sua maior contribuição.
Faltou nos ensinarem a dar a volta por cima.
A tomarmos um café numa livraria folheando um livro novo ou uma revista diferente, esquecendo por algum tempo a tela do celular;
A entrarmos numa igreja e entregarmos nossa vida nas mãos de Deus, nem que seja em silêncio;
A sentirmos o sol no rosto enquanto caminhamos, pedalamos ou simplesmente atravessamos a rua;
A encontrarmos recursos ou atividades que evidenciem o quanto somos especiais, o quanto temos talentos, o quanto podemos servir a outras pessoas;
A descobrirmos que, mesmo doendo, chega uma hora em que é preciso passar um trinco na porta. Não permitir visitinhas surpresas de quem não tem a intenção de ficar; não autorizar que abalem nossa paz; não desperdiçar nosso tempo com alegrias momentâneas que nos tornarão mais frágeis depois; não cair em armadilhas feitas de má intenção e manipulação; não nos deixar abalar por quem só quer brincar.
E depois de recuperada a sanidade, sorriremos orgulhosos em frente ao espelho ao reconhecer que mudamos. Que crescemos e adquirimos autocontrole e amor próprio. Que finalmente descobrimos o quanto realmente somos leves, sem os pesos desnecessários que achávamos que tínhamos que carregar…
(Fabíola Simões)

domingo, 22 de julho de 2018

QUANDO FALAR DE AMOR...



Quando falar de amor…
Finja nada conhecer,
para absorver cada frase
que brota em seu coração.
Quando falar sobre a dor,
deixe abertas as janelas da alma
para compreender que amor e dor são
tão parecidos que até os confundimos,
ao vê-los bem pertinho.
Quando falar sobre a paz,
faça-o no rumor da guerra,
para ser ouvido na mais alta voz.
Quando falar sobre sonhos,
acorde para vivê-los
na melhor lucidez do seu dia.
Quando falar de amizade,
estenda a mão aos inimigos,
para que possa provar a si mesmo
aquilo que gosta de dizer aos outros.
Quando falar de fome,
faça um minuto de jejum,
para lembrar daqueles que jejuam
todos os dias, mesmo sem querer…
Quando falar do frio,
abrace alguém.
Quando falar de calor,
estenda a mão.
Quando estender a mão,
sustenta o braço para que perdure.
Quando falar de felicidade,
acredite nela.
Quando falar de fé,
cerre os olhos para encontrar a razão
daquilo em que crê.
Quando falar de Deus,
faça-o pelo silêncio do seu testemunho.
Quando falar de si mesmo,
aprenda a calar
para entender o amor,
a dor, a paz, os sonhos…

domingo, 15 de julho de 2018

PSICOTERAPIA NÃO É COISA DE MALUCO.

– Onde dói?
– Aqui no coração.
Mais uma consulta. Mais pedidos de exames. Aquele já era o terceiro médico. Até ali tudo normal. O que tinha, afinal, aquele jovem coração sofredor?
O velho pediatra, o cardiologista da família, o tio neurologista, a prima otorrino. Todos foram consultados. O que um neuro e uma otorrino têm a ver com coração? Não implique! Na hora do desespero você também deve sair perguntando a todo mundo. Não pergunta?
Eco, exame de esforço, eletro: normal. O que dói? Dói a alma. Almas doem pelo corpo. Mas,tímidas, não aparecem em fotos. Não tiram selfie. Não se mostram nem nos exames mais sofisticados e coloridos. Não fazem exposição da figura. Dores da alma doem no corpo como ferida aberta e sem casca. É por onde elas saem. Cada um tem seu órgão de choque. Há quem sinta o mundo com a barriga. Outros têm enxaquecas terríveis, azia, insônia, perdas de apetite.

De dores cada um tem uma mala cheia. A gente disfarça ou não. Desabafa com o amigo ou se cala em culpas e vergonhas. No medo de murchar, não desabrocho. No medo de perder, não amo. Medo de desagradar e não ser mais querido, engulo sapos.
Vou colecionando afetos como panela de pressão com defeito. Nada sai. Até que um dia a gente explode. Quem parecia tão calmo, um dia explode em raiva, pranto e angústia. Não era calmo? Não, não era.
O casal chega no consultório. A moça muito amuada, me olha desconfiada. O marido começa a falar.
– Ela anda triste. Não consegue mais cuidar nem dela mesma. Chora muito. Às vezes parece que chora à toa, sem motivo. Falei para ela vir aqui procurar uma ajuda. Ela se ofendeu comigo. Disse que não é doida.
A moça, ofendida, quase pulou do sofá.
– E não sou mesmo, viu, doutora? Não sou doida. Não vou ficar aqui. Não vou fazer essas coisas de doido. Quem precisa de tratamento é ele. Pois ele que fique.
Quem precisa de tratamento? Olhando assim bem de perto, diria que todo mundo. Não pelas esquisitices que cada um traz guardadas no bolso. Mas pelas dores tantas e tão profundas que, às vezes, nos impedem de caminhar.
Posso ser esquisitíssimo. Sou Feliz? É o que me basta. Não sou? Então, tenho que tomar providências. Porque a vida é muito curta para passar sofrendo, não é não?

A psicoterapia é pescadora de almas. Faz o resgate dos pedaços perdidos pelo caminho. É o processo de reconstrução das falas, dos afetos presos, dos medos e das dores. Isso é coisa de maluco? Amigos, maluca é a vida. Vida é coisa louca.
Não me assusta ser louca. Me assusta é ser infeliz. Imersa na lama de mágoas. Paralisada nas areias movediças dos ressentimentos. A terapia abre portas trancadas, destrava janelas, areja afetos. Deixa entrar luz onde só havia medo e vergonha. Relê histórias antigas, descobre novas versões. Colorimos o que antes era triste bege. Velhos lutos fechados se abrem em nova vida.

(Por Mônica Raoulf El Bayeh)


domingo, 8 de julho de 2018

SEJAMOS NÓS MESMOS O AMIGO QUE DESEJAMOS ABRAÇAR.



"Por vezes nos sentimos frágeis e procuramos força no amparo amigo.

Por mais que nos amem, nem sempre os amigos conseguem fortalecer-nos na medida da circunstância que nos aflige. 

Nessas horas, ainda que frágeis, sejamos a nossa própria fortaleza.

Sejamos nós mesmos o amigo que desejamos abraçar.

Encontremos força em nosso peito, coragem em nossos passos, fé em nossas atitudes, e sobretudo a energia positiva que nos assegura que tudo irá passar, e assim um novo horizonte irá nascer.

Tenhamos amigos verdadeiros e eternos, mas não nos esqueçamos que o nosso melhor amigo somos nós mesmos, pois sempre contamos com o nosso coração e sempre iremos contar... Sempre!"


(Nicoli Miranda)



Não se renda, ainda há tempo de alcançar e começar de novo,
aceitar as suas sombras, enterrar os seus medos,
liberar o lastro, retomar o voo.

 Não se renda porque a vida é isso,
continuar a viagem, perseguir seus sonhos,
destravar o tempo, tirar os escombros
e descobrir o céu.

Não se renda, por favor não ceda,
mesmo que o frio queime, mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se esconda e que o vento se cale.
Ainda há fogo na sua alma, ainda há vida nos seus sonhos..."

Benedetti


domingo, 1 de julho de 2018

A NATUREZA.



A natureza é magnífica. Mostra-nos tudo, sem nada dizer.

Insetos ordeiros, trabalham, incessantemente, mantendo a vida, cada qual realizando o papel para o qual nasceu.

Árvores generosas, após a queda de suas folhas, renascem, lindas, prontas para a nova florada, que se transformará em vidas mil, com seus frutos encobrindo poderosas sementes que, pacatas, aguardarão a oportunidade de serem lançadas ao solo rico, multiplicando bençãos.

Aves rápidas, bailam pelos céus, cantando a melodia da criação.

Do chão, brotam alimentos para todos, numa oferenda sagrada a manter a vida em todas as partes.

Por fim, ensina-nos a mestra natureza que, apesar da escuridão que surge, desafiadora, a cada por de sol, um novo momento ressurgirá, repleto de luzes e oportunidades, a fim de que possamos, nesta Terra de Deus, realizar o que é realmente necessário: o melhor de nós.


(Cláudia Gelernter).