domingo, 24 de julho de 2016

AUTO-CRUELDADE.


  

De todas as violências que padecemos, as que fazemos contra nós mesmos são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade não se derrama sangue, somente se constroem cercas e cercas, que passam a nos sufocar e a nos afligir por dentro.
A auto-crueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões. Além de vir adornada de fictícias virtudes (aparente mansidão, paciência, serenidade), recebe também os aplausos e as considerações de muita pessoas, mas, mesmo assim, continua delimitando e esmagando brutalmente essa atmosfera virtuosa que envolve os que buscam ser sempre admirados e aceitos. 
A causa básica do "auto-tormento" consiste em algo muito simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação alheia.
Para vivermos bem com nós mesmos é preciso estabelecer padrões de auto-respeito, aprendendo a dizer "não sei", "não compreendo", "não concordo" e "não me importo".
Estar alheio a si mesmo, na ânsia de ser amado por todos  aqueles que considera modelos importantes, será uma meta alienada e inatingível.
O único modo de alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.
Pertencer a si mesmo é exercer a liberdade de não precisar conciliar as opiniões dos homens e de livrar-se das amarras da tirania social, da escravidão do convencionalismo religioso, das vulgaridades do consumismo, da constrição de ser dependente; enfim, do medo do que dirão os outros.
De quase nada nos servirá a liberdade exterior se não cultivarmos uma autonomia interior, porque quem está internamente entre grilhões e amarras jamais poderá pensar e agir livremente.


(Francisco do Espírito Santo Neto/Hammed).